Unicidade
Matemática para Gregos & Troianos
Mostramos a existência de uma representação posicional na base
para todos os números naturais
. Não menos importante é a unicidade dessa representação: a expressão
é a única maneira de representar
como um polinômio em
de grau
com coeficientes em
. Por outras palavras, se nos disserem que
são números tais que
(1)
;
(2)
;
(3)
então estamos autorizados a concluir que
e
para todo
de
a
.
A unicidade da representação posicional pode ser provada de várias maneiras (com ou sem o uso explícito da função piso). O argumento mais comum consiste em aplicar repetidamente a unicidade do resto de uma divisão. Bem menos conhecido é o fato de que podemos nos valer da existência para provar a unicidade! É o que vamos mostrar agora. O raciocínio poderá parecer sofisticado, mas é muito simples e de largo emprego na matemática. Baseia-se no seguinte fato (que é essencialmente um teorema de Combinatória):
Teorema. Se
e
são conjuntos finitos com o mesmo número de elementos, então toda função sobrejetora
é injetora.
(Para uma discussão mais detalhada, veja o artigo Funções na seção Conceitos Fundamentais deste site.)
Isso posto, fixe um número natural
e considere a função
com as seguintes especificações:
•
é o conjunto das
-uplas
de elementos do conjunto
tais que
. (Ou seja, o primeiro elemento deve ser diferente de zero.) Em termos de produtos cartesianos,
.
•
é o conjunto dos naturais de
até
.
•
.
Pode-se constatar facilmente o seguinte com relação a esses dados:
• O conjunto
possui
elementos.
• O conjunto
possui
elementos.
• A função
é sobrejetora. De fato, foi precisamente isto que provamos nas duas páginas anteriores.
Segue-se do Teorema acima que a função
é injetora. Isto significa que se
então
Ou ainda: se duas representações de mesmo grau na base
,
e
, são iguais, então os algarismos correspondentes são iguais.
Conforme dissemos no início deste artigo, quando as pessoas pensam em “números”, elas enxergam apenas uma representação particular dos mesmos, a saber, a escrita posicional na base
. Mas são os teoremas de existência e unicidade que provamos aqui que garantem o “sucesso” dessa representação.
Carlos César de Araújo, 16 de abril de 2006, 17:57:26