Lógica e Matemática 
 
 Introdução 
 Em vários cursos que ministrei com o Winplot, percebi que um dos exercícios mais instigantes é a descoberta da trajetória descrita pelo vértice da parábola  
  Surge a questão: como ter certeza de que a trajetória do vértice é mesmo uma parábola? Na Matemática, o instrumento da certeza (embora nem sempre o da descoberta) é o raciocíno lógico dedutivo. A lógica por trás desse problema nos conduzirá a algumas idéias interessantes. Mas vejamos, primeiro, uma dedução “informal”, isto é, sem Lógica (o que não quer dizer que seja ilógica). Solução sem Lógica 
 Nosso problema não ofereceria dificuldade alguma para um matemático, digamos, do século XVIII. Exceto por  detalhes de notação e exposição, ele poderia argumentar como segue. Dado  Vértice da parábola 
  
 de modo que o lugar geométrico do vértice quando  
  
 por eliminação da variável  
  e substituí-lo na segunda, o que nos dá 
  ou Equação cartesiana do lugar 
  
 Essa equação quadrática em  Dificuldades 
 A solução anterior é sucinta e direta. É típica do padrão de apresentação que se vê em muitos textos de Matemática: parte-se de algumas fórmulas, montam-se algumas equações, manipulam-se algumas variáveis e destaca-se uma equação final. Mas está longe de satisfazer aos espíritos mais inquiridores, inexperientes e que padecem com o mal ensino dessa ciência. Por que a eliminação conduz à resposta? O que significa exatamente “eliminar” uma variável? O que está “variando”? Qual a relação entre a variação de  Essas indagações remetem a noções e processos lógicos que o solucionador treinado articula apenas em sua mente, talvez de forma nebulosa; mas tendo “assimilado-os” durante anos de estudo, prática e “confirmação”, já não vê motivo para explicitá-los numa apresentação comum. (É o postulado tácito do isomorfismo da compreensão.) Uma vez revelados, contudo, tais processos estabelecem conexões inesperadas entre os mais variados temas. Retomada: primeiro, uma bi-implicação 
 A trajetória do vértice é um conjunto de pontos do plano cartesiano ( Bi-implicação (1) 
  
 A idéia é identificar  A Condição do Lugar 
 O conjunto  A trajetória como um conjunto de pontos 
  
 Essa igualdade encerra um quantificador existencial: significa que, para todo  Bi-implicação (2) 
  Comparando isso com a bi-implicação anterior, resulta que Bi-implicação (3) 
  
 Observemos atentamente essa expressão. No lado esquerdo queremos apenas uma equação relacionando quatro  “grandezas” ( Eliminar o quê? 
 Vemos agora que, para acoplar as equações em  
  
 Não obstante, a solução informal prova apenas a parte  Eliminação de Quantificadores Alternativamente, pode-se obter a equação do lugar num só passo como uma aplicação da equivalência lógica (examinada em outro artigo desta Seção) 
  Este é o caso mais simples do que se conhece em Lógica como eliminação de quantificadores: uma sentença com quantificadores é transformada numa equivalente, mas sem rastro de quantificação. Problemas de “eliminação de variáveis” como o que vimos — além de outros já apresentados neste site — são, quando vistos mais de perto, problemas de eliminação de quantificadores, e surgem em muitas partes da Matemática “pura” e “aplicada”, mesmo nas mais elementares. 
 Podemos citar mais um exemplo sem abandonar o trinômio quadrático. Sabe-se que o trinômio   
  
 Note-se que temos um quantificador no lado esquerdo da bi-implicação, mas nenhum no lado direito —  Existe uma maneira sistemática — um algoritmo — para eliminar quantificadores? Seria formidável dispor de um tal procedimento, já que poderíamos delegar o trabalho a uma máquina, permitindo-nos concentrar apenas na modelagem ou especificação dos problemas em linguagem lógica. Por volta de 1930, motivado por um problema na interseção da Geometria com a Lógica, o lógico polonês Alfred Tarski anunciou o primeiro algoritmo para a eliminação de quantificadores atuando sobre equações e inequações polinomiais com coeficientes reais. Apesar de sua importância, o método de Tarski não é prático. Uma implementação mais eficiente só surgiria quase quarenta anos depois. Atualmente, várias técnicas de eliminação têm sido investigadas por pesquisadores de várias áreas, muitos dos quais movidos pela beleza intrínseca do assunto. Mais recentemente (2000), Adam Strzebonski desenvolveu um método que foi incorporado nas funções Resolve e Reduce do software Mathematica 5. (A função Eliminate, existente desde a versão 1, é suficiente para o nosso problema, mas lida apenas com equações à maneira do nosso matemático do século XVIII — que nada sabe de quantificadores.) A eliminação de quantificadores também é assunto da seção Álgebra (!) deste site. Exercício Visualização (por si só) não implica compreensão. (Pelo menos, nem sempre!). Verifique que já era possível visualizar o lugar do vértice no Winplot a partir das equações iniciais sem recorrer à eliminação de variáveis. (Use a janela de equações paramétricas do Winplot. A trajetória parametrizada foi vista aqui.) Como se poderia explicar a forma da trajetória sem a eliminação? Carlos César de Araújo, 23 de dezembro de 2006, 18:44:34  |